O Artesão
Um artesão tentava
Criar a mais bela escultura
Fazia e refazia a mesma peça
Aparava, limava, talhava
Não era boa o bastante
Nunca
E ele continuava trabalhando
Com formão, com martelo
Até que a peça sumia
E ele então recomeçava
Um dia desistiu
Parou o entalhe no meio
Decidiu não terminar a peça
Simplesmente a jogou longe
E nunca mais pegou no formão
Meses, anos, décadas se passaram
O artesão sempre se lembrava
Com pesar e com ternura
Da peça que jogara fora
Até que certa vez
Passando por um povoado
Distante e distinto de seu próprio
Encontrou uma feira de artesanato
Decidiu admirar as peças
E qual não foi sua surpresa
Ao rever aquela beleza
A mesma peça que antes jogara fora
Enfeitava aquela feira agora
"Quanto quer por esta peça?"
Perguntou ao vendedor
"Essa peça não está à venda.
Seu valor é incalculável.
Não se conhece o autor."
"Mas fui eu quem a fez.
Eu que a esculpi."
E o vendedor então
Entregou-lhe ferramentas
Depois, um bom pedaço de madeira
"Então faça algo para eu ver."
Mas o artesão já não sabia mais manusear as ferramentas
"Estou velho e sem prática."
"Sem saber se é verdade,
Se foi mesmo você quem a esculpiu,
Não poderia entregar-lhe a peça.
Por outro lado,
Se não mente,
E é, de fato, o artista
Não merece também a peça.
Desperdiçou seu dom."
4 years ago
4 comments:
minha preferida, so far...
abraço
engraçado... a gente nunca sabe o que vai dar leite, né?
Nem mesmo quem se tornou especialista em tirar leite das pedras....
mas será o benedito? dá pra assinar aê?!
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