29.2.08

Awakening

I had a dream

She was there
Walking right past me
I couldn't see her

The river went on
Never leaving its course
Until that day

Life was turmoil
Everything was falling apart

That was called for
I needed to get to know myself

I opened my eyes
The light hurt me
For a while
I finally could see

And I saw the planet
And the trees
And the birds
And I felt the wind
Caressing my skin

There were people around me
Talking, walking, living
And I finally realized:
"I can..."

That's when I finally saw her
Really saw her
People talked about her
All the time
But I saw her

And I was awake

28.2.08

Versos Escatologicamente Fáceis

Me saem os versos fáceis
Pulam para fora de mim
Como se meus dedos
Não tivessem força para contê-los

Digo que vomito versos
Mas não é uma boa metáfora
Embora, muitas vezes,
Os versos sejam como o vômito:
Mal cheiroso, amarelo, asqueroso

Mas o vômito, não
O vômito me sai com dificuldade
Faz doer as entranhas
De modo que não comparo
Nem crio metáforas
Ou uso qualquer outra figura

Mas eis que surge uma figura
Para bater de frente com a estrofe anterior:
O peido

Sim, meus versos são como o peido
Que escapole, se furta, se esvai
Provocando incômodo
O peido só é bem vindo na solidão
Aí então peida-se à vontade
Como se soltam os versos

Mas não são tão importunos
Os versos

Então decido de vez
Não uso figuras
Apenas digo
Versos fáceis
Fáceis de escrever
Fáceis de ler
Fáceis de lembrar
Fáceis de gostar e de detestar

27.2.08

Bonanza da Insatisfação

Estava sentado no sofá. Avaliava sua vida. Pensava na casa, na esposa, nos filhos. Olhava para a janela e pensou, sou um infeliz. Tinha tudo e não tinha nada.
De repente a janela começou a se abrir. Sentiu que seu corpo era puxado, como que por um vento, em direção à ela. De entreaberta a janela passou a se arreganhar. Agora sentia realmente que seu corpo era sugado para fora através da janela. Olhava em volta e percebia que todos os móveis e a TV continuavam lá, parados, enquanto ele já procurava algo em que se agarrar. A força da sucção aumentou. Percebeu nesse momento que sucção não era a melhor palavra para descrever o que ocorria. Estava sendo expulso de sua casa por uma força desconhecida, talvez magia negra.
Caiu do sofá. Seu corpo batendo pesadamente contra o chão e escorregando, escorrendo em direção à janela como se a sala estivesse tombando tal qual um navio em alto mar. Se agarrou ao sofá, mas a força estranha o puxava ainda mais forte agora. Sentiu seu peso diminuir e percebeu que a gravidade já não mais era suficiente para mantê-lo ali. Não conseguiu mais se segurar e, num estouro, foi cuspido para fora da sala, fora da casa, fora da sua própria vida.
Abriu os olhos. As luzes do quarto estavam apagadas. Sua mulher ressonava ao seu lado enquanto sentia a camisa do pijama grudada à pele pelo suor.
Melhor voltar a dormir, pensou, amanhã é segunda-feira.

24.2.08

Sou um elástico velho de várias pontas. Me estiquei em todas as direções. Tanto estiquei que perdi a elasticidade. Fiquei bambo. Minhas pontas soltas, sem força pra se recolherem de volta.
Sou uma ameba que lançou seus pseudópodes em tantas direções e com tanta força que não consegue mais fagocitar nada.
Uma caravela com muitos mastros, mas cada um aponta prum lado no meio de uma tempestade. Caravela despedaçada.
Um girassol em uma galáxia cheia de sóis. Cada pétala quer puxar a corola em uma direção.
Um rio correndo ao mesmo tempo para o Índico e para o Pacífico.

20.2.08

Forte

Olho pro teto. O sono chega devagar. Estou inconsciente. Sei disso pois vejo seu rosto sorrindo. Minhas mãos deslizam pelo seu corpo, subindo da cintura, acariciando seus seios e, finalmente, chegam até o pescoço. Você continua sorrindo. Minhas mãos envolvem seu pescoço fino.
Começo a apertar. Cada vez mais forte. Você se debate, mas meu peso te subjuga. Percebo que seus lábios começam a ganhar uma coloração púrpura. Sua pele perde o rosado. Está pálida. De repente, não se move mais.
Acordo. Vou pro trabalho. Aquele sonho me perturba. Mesmo morta, ainda me domina.

14.2.08

Maria estava preocupada com seu amigo, Antônio. Ele não parecia muito bem. Andava calado, amuado. Resolveu ligar pra ele.
- E aí, como é que cê tá?
Um suspiro do outro lado. E ele disse:
- O que dizer nessa noite tranqüila? - mais um suspiro. - Talvez que ela esteja tranqüila até demais pro meu gosto. Faz falta ter aquela pessoa do seu lado. Dividir o frio e o calor. Aí, dá uma melancolia gostosa. Dá uma vontade de Me perder naqueles pensamentos. Até percebermos que são só pensamentos. Depois a gente volta e vê que a realidade não tá nada mal, se melhorar estraga. Pelo menos até amanhã, ou depois, ou depois, ou depois...

13.2.08

2U's

Abri os olhos
He was there
Não via seu rosto
He'd turned his back on me

Gritei por ele:
"Quem é você?!
Me mostre seu rosto!!"
Nem um movimento
Only his voice:
"Who I am is irrelevant,
For you know me too well.
Yet, if I showed you my face
You'd probably die in pain."

Me levantei
And attacked him.
Mas ele sabia o que eu ia fazer
Before I could even think
Antes que eu fizesse qualquer coisa
And he assalted me with his elbows
E coices certeiros, castigando
My nose, my ribs, and my sack

Desisti, me sentei
I was panting and
olhando em volta
I saw a farmer's tool:
Uma foice!

I jumped at it and
De um golpe só
Cut off his head

Abri os olhos
The mirror or
O que sobrou dele
Shards of glass
No chão, me refletindo
My hands, my face, my life

10.2.08

Cada Um Com Seus Problemas

Sentou-se na mesa do café e acendeu um cigarro. Olhou em volta e viu um casal de homens trocando juras de amor. Pensou, se eu fosse gay, minha vida seria tão mais fácil. Nesse momento seu celular tocou.
- Alô.
Do outro lado da linha a voz de Fabíola estava trêmula.
- Jaime, onde cê tá?
- Tô tomando um chopinho em um café. O que aconteceu? Cê tá chorando?
- Preciso muito de você agora. Me dá o endereço que vou praí.
Jaime passou o endereço do café e, antes de deixar Fabíola desligar, ainda perguntou:
- Tem certeza que cê tá bem pra dirigir?
- Tô. - disse ela com voz de criança que perdeu um brinquedo.
Assim que Jaime terminou o primeiro chope, percebeu que Fabíola estacionava o carro na rua do café. Ela desceu do carro estabanada, tresloucada, parecia meio perdida. Deixou cair a bolsa no chão. Se abaixou para pega-lá e antes de se levantar novamente, aproveitou para pegar um cigarro. Se levantou cambaleante. Os óculos escuros escondiam os olhos vermelhos de pranto. Acendeu o cigarro enquanto caminhava até a mesa onde Jaime estava sentado.
Jaime a observava e admirava o fato de que, mesmo estando em pedaços, como ela aparentava estar pelo telefone, ela conseguia ser linda. Ele sempre achara que a beleza, interior e exterior, de Fabíola seria o suficiente para encher um estádio de futebol. Quem não pagaria um ingresso para estar em sua presença? E ele, um privilegiado, tinha aquilo todos os dias, sem precisar pagar nada.
Jaime se levantou para abraçar Fabíola. Ela chorava baixinho.
- A Lívia terminou comigo. - ela disse baixinho em seu ouvido.
Ele tentou acalmá-la. A apoiou para que ela se sentasse à mesa. Sentou também.
- O que aconteceu? - Jaime perguntou.
- Não sei. Ela me pediu um tempo. Pelo telefone. Sem explicação.
Agora Fabíola se recompunha. Usava um guardanapo para limpar as lágrimas por baixo dos óculos escuros. E acrescentou olhando para Jaime:
- Ai, Jaime, minha vida seria tão mais fácil se eu não fosse gay.