19.6.18

Registro Autobiográfico

Toda tristeza é válida. Não se deve julgar.
Não importa se uma pessoa enfrenta uma guerra ou a fome. A tristeza pode vir por que você quebrou um bibelô que gostava. Não importa de onde ela veio. Não dá pra generalizar. Não dá pra dizer que uma tristeza é mais válida do que outra. A única pessoa que pode julgar se aquela tristeza é válida é a pessoa que está sentindo a tristeza.
Tinha muito tempo que eu não escrevia por escrever.
Houve um tempo que eu escrevia muito. Por uma necessidade. Eu vivia um momento que me via sem chão e acho que usava o escrever para me apoiar. Felizmente, eu achei outro chão. E o escrever deu espaço para outras coisas, outros projetos. O que é muito fácil pra mim: trocar de projetos.
Teve uma época que eu perdi o chão e escrevi, outra época tirei fotos. Devo ter feito outras coisas buscando chão.
Uma vez um amigo meu me disse que era mais fácil eu virar escritor do que médico. Acho que eu virei médico só pra provar que ele tava errado. Sou muito reativo, mesmo quando tento não ser. Talvez mais quando tento não ser.
Mas a verdade é que sinto falta de brincar com as palavras. Sinto falta de digitar no teclado. É a única hora que gosto mais de escrever no computador do que no papel. O papel é sempre melhor. Mas quando estou escrevendo coisas que vêm da minha cabeça, gosto mais de digitar. Devo ter uma visão romantizada do Fernando Pessoa digitando (datilografando seria o termo correto) em pé, sozinho, em transe. Não sei se ele entrava em transe. Eu não entro em transe. Entro numa de admirar o que eu consigo produzir. De ver as letrinhas surgindo, quase sem nenhum erro, com pontuação, com crase, com vírgula... É bem narcisista pra mim escrever.
Fiquei bem triste de ver que não conseguia mais escrever redação de vestibular depois de 6 anos de faculdade. Me acalentei no fato de que redação de vestibular dificilmente pode ser considerado literatura (muito menos nobre literatura).
Tenho que tirar esse trecho aí em cima de dentro dos parênteses. A nobre literatura.
Uma amiga minha uma vez me disse que temos que escolher entre uma vida tranquila e produzir a nobre literatura. Um professor de literatura disse uma vez que o que há de comum entre os grandes escritores, aqueles eternos, imortais de verdade, é o desconcerto com o mundo. Tem a ver. Ou haver. Não sei. Tem muito tempo que não escrevo pra saber se o certo agora seria a ver ou haver. Mas realmente escrevi mais (e li mais) quando me sentia desconcertado, desarranjado, bagunçado, perdido, sem chão.
A ideia desse blog não era ser um diário. Nem mesmo ser autobiográfico. Mas uma professora de oficina de texto uma vez me disse que todo texto é autobiográfico.

Foda-se as regras de hífen do português reformado. Antes a reforma tributária. E política. Fora todos.