29.9.09

Coisas de Dois

"Então me diz."
Coçou a barba com a mão direita enquanto a esquerda se sustentava na altura da cintura. Seu olhar corria os cantos da sala.
"Digo. Com uma condição."
"Qual?"
"Você vai tentar apreciar o que eu falar, mesmo que a princípio soe estranho." Foi até a janela e acendeu um cigarro, ensimesmado. Soltou a primeira nuvem de fumaça. Ela aguardava, sentada sapeca no pufe. Ele completou:
"E vai dormir aqui hoje."
"Mas aí são duas condições!" Ela disse sorrindo com as mãos nas cadeiras.
"É pegar ou largar."
"Ok. Vou apreciar o que você disser. E só vou topar a segunda condição por que já era parte do plano mesmo. Agora, desembucha."
Ele voltou-se de novo para a janela. Soltou outra baforada de fumaça e disse sem olhar pra ela:
"Você pra mim é perfeita mesmo com tantas imperfeições."
Ela pensou um pouco e depois sorriu. Se levantou e o abraçou por trás, já que ele ainda fumava com o rosto voltado para o lado de fora da casa. Terminado o cigarro, apagaram a luz e subiram as escadas para o segundo andar. Já estava ficando tarde e amanhã começaria tudo de novo.

25.9.09

Tomada Banana

Tó, Madá, banana.
Tô má. Dá banana?
Tomada, banana!
Tô, ma dá banana?

23.9.09

Sábado À Tarde, Centro

Ele ia descendo a ladeira
Salpicada de gente
Os tornozelos dizendo pra ir devagar
A barriga quentinha, digerindo

Viu uma moça de vestido
Sem razão aparente
Ela atraíra seu olhar
O vestido moldando seu corpo
Seus cabelos ao meio dia ainda bem desembaraçados
Panturrilhas amostra e os pés na sandália
Ressecados: era como ele mesmo
Operário e operária descendo a ladeira

Olhando em volta, o ponto de ônibus
Parou um, depois outro logo atrás
Dois vagões do mesmo trem
As portas se abriram
Inundando a calçada de gente
Mais gente como ele
Rostos cansados
Belos como todo o resto

7.9.09

Do Trabalho Pra Casa

Catarina desce do palco
Sua voz pouca e rouca
A alma lavada
O corpo cansado

No camarim, Leonardo aguarda
Ele tem dessas coisas
E a recebe com uma palavra:
-- Surpresa!