17.12.08

A Rosa

Andava pela praça, como fazia todas as manhãs, quando a viu. Nunca, em toda sua curta existência, havia colocado os olhos em algo tão belo. Esqueceu-se de onde ia, o que faria. Esqueceu-se de si. A rosa o havia laçado. 
Seus pés, cada vez mais rápido, se moviam, levando-o para perto daquela rosa grande e vermelha. Estava a menos de um metro. Podia já sentir seu perfume. Agachou-se, olhou em volta. Sentia-se envergonhado por não conseguir controlar sua vontade daquela forma. Olhava em volta para ter certeza de que ninguém o vigiava.
Olhou para a rosa novamente. Tinha ainda pequenas gotículas de orvalho em suas pétalas que, embora dessem um ar melancólico à rosa, também realçavam sua perfeição. Tocava as pétalas, sentia o toque doce na ponta de seus dedos. Estava em enlevo.
Foi aí que se lembrou. Já havia estado ali. Já havia se ajoelhado frente àquela obra da natureza,  tantas e tantas vezes. E lembrava-se de como havia a descrito antes: ela era plástica!
Lembrava-se também dos espinhos. Mas queria tanto tê-la. Sabia também que a rosa morreria se dali fosse arrancada.
Decidiu não tocá-la. Levantou-se e seguiu seu caminho, voltando os olhos, vez ou outra, por cima do ombro, enquanto podia, tentando guardar cada detalhe daquele encontro.

16.12.08

A Correntinha

Encontrou aquela correntinha no meio da mudança. Era dourada, mas qualquer um perceberia que não era ouro. Sem valor algum. Financeiro. Mas como era cara naquele contexto. Quanta lembrança, quanta história.
Deixou-se levar por tudo aquilo. Mergulhava do alto e penetrava aquele mundo onde tudo era perfeito: o passado. Tudo o que vivera, tudo o que sentira, as coisas se encaixavam com tanta perfeição. O mundo parecia mesmo fazer sentido. Acreditava que havia chegado ao final da jornada. Havia alcançado o que havia de mais valioso, de mais importante. De fato, acreditava que tinha nas mãos a única coisa que de fato possuía algum significado.
Porém, escorregara, se desequilibrara. Que tombo. E tudo aquilo se tornou o que era aquela correntinha: uma lembrança de um tempo muito longe e feliz.
Viu-se em um dilema: guardá-la ou não?
Não precisou muito tempo para perceber que o certo seria jogar tudo fora.
Por razões e vontades que, embora compreendesse, não aceitava, as coisas estavam como estavam. E o fato de não aceitá-las, só prolongava seu sofrimento, tornando tudo aquilo, antes imaculado e lindo, em dor e mágoa. Guardar a correntinha mantinha vivo aquele sonho implausível concreto, real, mas inativo, congelado. 
Arremessou-a o mais longe que pôde dentro do mar escuro espalhado à sua frente. E em poucos segundos, a sua própria presença ali era comprovada apenas pelas partículas de poeira que dançavam no ar, deixadas para trás pelos pneus. 
E o vento continuava a soprar, a balançar o oceano. Os pássaros continuavam a voar pela orla. E a areia continuava a se deixar lamber pela língua branca e salgada do mar.
E mesmo aquelas partículas de poeira em mais alguns poucos segundos se assentariam, transformando qualquer lembrança de sua estada ali em nada. 

11.12.08

Nada Demais

Ela não é mais bonita
Nem mais charmosa
Nem mais gostosa

Ela não é mais sábia
Nem mais inteligente
Nem mais independente

Ela é só mais uma
No meio de tantas outras
Sem nada de mais
Ela não é demais

Mas nos meus olhos
Ela brilha!