22.3.13

Tudo Muda. ou Melhor ou Pior? ou Diferente.

Por mais que doa no coração dos puristas, saudosistas, velhos (de alma, como às vezes eu sou), as coisas mudam. O ser humano existe do jeito que é, homo sapiens, há muito pouco tempo quando comparamos com o quanto tempo tem que o mundo é mundo. Mas chama atenção demais o quanto as relações intra e interespecíficas e a maneira de interagir com o ambiente mudou para essa espécie nesse pouco tempo. E mais louco ainda é perceber como essas mudanças se processam cada vez mais rápido. Tenho certeza de que, se você tá lendo esse blog, você tem acesso privilegiado à informação e, mais do que isso, tem know-how para buscá-la e encontrá-la. Então, se você ainda não viu, procure aí um gráfico que mostra uma linha do tempo e as transformações que ocorreram no mundo pós pré-história (ficou esquisito, mas eu realmente não sabia outra maneira de escrever isso). Quando você se deparar com tal linha do tempo, você vai perceber que as mudanças vão se aproximando cada vez mais.
É até cliché comentar isso, mas acho que é a  melhor ilustração para o que eu quero dizer. Pensa em aparelhos de emissão sonora. Até o final dos anos 70, o que rolava era o vinil, o LP. Tinha que ter uma vitrola (toca-disco) para ouvir sua banda favorita. Imagina o cara sentado em uma sala de estar, ouvindo um disco do Caetano, segurando a capa do disco retratando o cantor com aquela cabeleira farta e rebelde. Depois surgiu o toca-fita. Ficou muito prático carregar as suas músicas prediletas. Elas cabiam no seu bolso. Depois veio o walkman e você não só carregava as músicas no seu bolso, ainda que com certo volume, mas as ouvia enquanto caminhava (daí o nome do aparelhinho). Isso sem falar que a experiência passou a ser individual, quando antes ela era necessariamente, forçosamente, compartilhada (funkeiro no buzão). A liberdade individual tomava novos rumos. Depois veio o CD. E, embora o tamanho do discman não seja tão diferente do walkman, a qualidade do som é inquestionável. As fitas se deterioravam rápido com o uso. Depois veio a era do mp3. Estamos nessa era. E, para fechar o meu argumento, agora compare a distância temporal entre uma mudança e outra. Quanto tempo entre o lançamento do toca-disco e do toca-fita? Quanto tempo entre o CD e o mp3? Percebe?
Mas o lance dos aparelhos de emissão sonora é só uma ilustração. Vamos falar sobre algo que gera mais repercussões: as relações interpessoais. O conceito de rede social existe há muito tempo (muitas décadas, talvez séculos, não sei), mas só agora ele tá na boca do povo. E o que tem me chamado a atenção é a maneira como as novas redes sociais se formam e como elas são superficiais e frágeis. E aí, fazendo uma analogia com os toca-fitas e mp3 players, pensa em como seria você falar sobre seu dia para alguém nos anos 70 e como é hoje. Eu não vivi nos anos 70, mas imagino que, se você quisesse contar para alguém sobre alguma experiência que teve, teria que conversar com a pessoa. Talvez você pudesse telefonar para essa pessoa. Talvez pudesse mandar uma carta (o que demandaria bastante tempo, tanto na confecção da carta quanto no processo de fazê-la chegar ao remetente, e esse tempo, em geral, te dava a oportunidade de se esmerar). E hoje? Você tira uma foto com seu celular, posta no facebook e escreve uma linha e meia descrevendo ou comentando a foto. Pronto. O mundo inteiro viu. Rápido, não? Mas a questão é: isso é melhor ou pior? Tenho percebido que as pessoas não precisam mais se esforçar para se expressar. Não há muito o que pensar, não dá nem tempo. Eu tô vivendo aquilo e, naquele mesmo minuto, já tô dizendo pro mundo que aquilo tá acontecendo comigo. O que me preocupa é que às vezes, essa rapidez não nos dá tempo para refletir sobre a experiência, sobre seu significado (se é que teve algum), e, de repente, já tá lá, para todo mundo ver (ainda que ver não seja enxergar), todo mundo saber. E aí, das duas uma:
1. Experiência vazia: Você publica um monte de coisa sem significado algum, por que não dá tempo para refletir sobre se houve ou não algum siginificado e, consequentemente, se valia ou não a pena publicar.
Ou...
2. Experiência significativa transformada em experiência vazia: Você publica algo que teve sim um significado enorme para  você, mas, da mesma maneira, não acrescenta muito, por que foi rápido demais e você nem mesmo teve tempo de perceber esse significado. E, pra piorar, como tudo acontece tão rápido, provavelmente aquela sua publicação que teria significado, vai ser sobrepujada por um mar de outras sem significado algum.
Já tentou achar uma postagem antiga no facebook? O que é uma postagem antiga? Quantas postagens surgiram na sua timeline nas últimas 24 horas? Quantas dessas tiveram siginificado? Cês entendem a minha questão?
O surgimento dessas novas redes sociais, as virtuais, através da net, certamente deve ter funcionado como um canal para diversas pessoas que se sentem embaraçadas em contextos sociais concretos. E, a César o que é de César, eu reconheço esse valor. Porém, ao mesmo tempo, parece que o surgimento desse canal tirou dessas pessoas a necessidade de se esforçarem um pouquinho e desenvolverem habilidades que elas não tinham (agora nunca terão). Mas será que elas vão precisar dessas habilidades no mundo de hoje? Essa é uma pergunta que ainda não consegui responder definitivamente. Em geral, posso afirmar que ainda há uma necessidade de saber socializar presencialmente, na maioria dos contextos. Essa necessidade, contudo, vem diminuindo. Vão surgindo novas relações que permitem que uma pessoa passe sua vida toda dentro de casa, sem nunca se relacionar fisicamente com seus pares. Só não sei se isso é bom. Ou ruim. Ou simplesmente diferente. Você sabe?

Dedicatória: Como não tenho escrito muito ultimamente, a partir de hoje, quando o fizer, vou escrever uma dedicatória para pessoas que importam. Digo pessoas por que meus textos têm ficado cada vez mais escassos, de forma que quando surgi um, eu devo aproveitar para dedicá-lo para o maior número de pessoas possível.
1. Em primeiro lugar dedico esse texto para a minha cara metade, minha linda, habilidosa, astuta, genial, brilhante, gostosa namorada. Por que ela sempre reclama que eu não escrevo mais pra ela. Eu tento explicar que eu escrevo quando tô sofrendo de amor. E ela, felizmente, só me faz feliz. Acho que eu também escrevi no começo do nosso namoro quando eu achava que nem era real, que era um sonho. Mas hoje, super, hiper, felizmente, vejo que nosso amor é real, concretíssimo.
2. Vou dedicar esse texto também pro Zuba que me deu um mousepad hoje. Só pelo mousepad? Não, ele também tem me ajudado muito com meus estudos. Então, dedico pro Zuba também.
3. Dedico também pro Rony e pro Navarro por que eles escrevem mais do que eu. Só por isso, já merecem.
4. E, finalmente, eu quero mandar um beijo pro meu pai, pra minha mãe e pra você. Esse "você" nos anos 80 seria a Xuxa. Mas hoje não é mais. Hoje é você mesmo que tá lendo esse texto. Um beijo.