31.8.09

Domingo no Teatro

A mão entrava dentro da bolsa
Sem pudor, sem vergonha, nem embaraço
E resgatava lá de dentro a salvadora bombinha

Seus olhos no palco brilhavam ao som dos holofotes
O ar lhe faltava, mas ela não se movia
O sorriso no seu rosto era de entendimento
Além do que assistia, de si mesma
Sorriso de quem se enxerga no outro
De quem se vê do lado de fora de si
E talvez sem que ela percebesse
Não era só no palco que ela estava
Também estava em toda a platéia
No rosto e na alma de todos aqueles
Que com ela agora sorriam

No palco, um gracejo
O sorriso, agora, fazia barulho
Seu corpo balançou, crise de tosse
Salvadora bombinha!
Ela chacoalhou-a e deu duas aspiradas
Não tinha vergonha, pudor ou embaraço
E já com o ar de volta aos pulmões
Continuou a sorrir, a se assistir

25.8.09

Cigarette Break

They'd seen each other before
A couple of times, maybe more
Exchanging shy glances and smiles
Walking around was worthwhile

She used to work in the storeroom
He learned that tripping on a broom
He used to be a simple errand boy
Doing things which most people annoy

There was this one plain particular day
In windy September, perhaps in May
Taking the lift for a cigarette break
When the doors were open, he was awake

She was there then just staring at him
None of them knew what was to begin
They said hello and together rode down
A lift ride like a nice trip out of town

Her hair so scented, her skin so white
Her eyes sparkled, a star isn't that bright
They talked about nothing, sharing everything
Never done that before, yet one could so think

Outside the building, the sky was blue
A stroll around was certainly due
He then realized he'd left his pack
Up in the office, in his backpack

Her own was enough
She was glad to share
Love was given birth
Just out of thin air


19.8.09

Gato no Telhado

O gato subiu no telhado
Mas não caiu
Nem quis se jogar

Primeiro sentou-se confortavelmente
Beeeeeem na beiradinha
Lambeu a primeira patinha
Depois a segundinha

Observou um casal de pombos
Passavam voando e pousaram
Lááááááááááááááááááááá longe

Nas ruas, lá embaixo
Movimento de gente
Uns que chegam, uns que saem
Outros chegam, outros saem

A orelha coçoooooooooou
E ele obedeceu
Depois se espreguiçou
Devagariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinho
E se deitou
E ficou por ali
Assistindo o pôr-do-sol

13.8.09

from Alessa Menezes
to Bruno Guima
date Thu, Aug 13, 2009 at 9:05 PM
subject RE: para Francisco,

Nao apenas me fez sorrir num dia cinzento e abafado em SP como me fez lembrar que indo contra tudo que digo que 'nao se faz amigos depois dos 30' me mostrou que fazemos até irmão.
Aqueceu meu coraçao apenas por ter lembrado de me dizer tudo isso.
amo vc, sim. esteja onde estiver.
beijos



Bruno wrote: -----------------------------------------

Então, quase 8 meses depois de você ter me dado o livrinho, minha irmã me diz sobre um blog de uma moça que fotografa seu outfit diariamente. Diz que tem a ver com um projeto para amenizar a dor de ter perdido o marido grávida. E eu penso: "Já ouvi essa história".
Vou na minha prateleira e encontro o livrinho que você me deu de aniversário. E o leio em duas tardes. E me lembro por que somos um do outro sem importar onde estamos.
Beijos,
Bruno

9.8.09

A Cerveja

Entrou no banheiro. Precisava dar uma mijada. O banheiro era estreito e comprido. Felizmente estava vazio. Havia um mictório comprido que ia da porta até o final do banheiro, onde uma privada aguardava. Para chegar à privada, se houvesse mais alguém mijando, certamente teria que pedir licença. Mas não havia ninguém, então ele caminhou calmamente e entrou na estreita cabine. Desabotoou a calça, desceu o zíper e tudo mais e, enquanto o líquido amarelo ia sonoramente colorindo a água dentro do vaso, ele olhava em volta. Uma garrafa de cerveja?!
Na cabine havia um desses compartimentos onde se coloca o papel higiênico em banheiros públicos, para evitar que espíritos de porco roubem o rolo. E sobre ele, uma garrafa longneck de cerveja. Heineken! Cheia! E ainda suadinha. Deveria estar geladíssima.
Ele começou a pensar em todas as possibilidades.
Alguém muito bêbado deveria ter entrado ali antes dele. O cara provavelmente já teria tomado várias. Aquela deveria ser sua oitava ou nona longneck. Isso se não tivesse tomado mais alguma coisa -- talvez uísque, talvez vodka, uma caipira. O cara deve ter entrado cambaleando. Acabara de pegar aquela Heineken. Veio se escorando na parede e, por perceber que seu centro de equilíbrio havia desaparecido, decidiu mijar na cabine. Ao entrar na cabine, deu graças a Deus por haver aquela mesinha improvisada, colocou a cerveja sobre ela, apoiou as costas contra a parede, abriu a braguilha e deixou a água escorrer do joelho. Quando se sentiu aliviado, subiu o zíper novamente e saiu cambaleando. Deixou a garrafinha pra trás, sem nem se dar conta.
Teoria plausível. Porém, era muito cedo. O pubzinho acabara de abrir. Ele já dera uma volta lá dentro e vira: deveriam haver no máximo uns oito caras lá dentro e umas três meninas. E ninguém ali parecia bêbado o suficiente para protagonizar a cena que passara por sua cabeça. Além disso, o banheiro estava limpíssimo, até cheirava bem. A história teria sido outra.
Alguém entrara ali para dar uma mijada e, como ele, aproveitara o conforto da cabine da privada. Fora até lá. Para maior conforto ainda, decidira colocar a garrafa que acabara de pegar no bar sobre o compartimento de papel higiênico. Durante a mijadinha lembrara-se de que não havia ligado o alarme do carro. Saiu correndo, a cueca até recebeu alguns pingos indesejados no processo, e a cerveja ficara esquecida lá, intacta.
Gostou dessa versão para a história. Mas ainda achou que a chance de algo assim ter acontecido era muito pequena.
-- Foda-se! -- resmungou.
A chance de uma garrafa de Heineken ter sido largada no banheiro era menor ainda, e, no entanto, lá estava ela, suadinha, tão gelada que o suor ainda nem começara a escorrer. Fechou o zíper, pegou a garrafa, deu uma cheiradinha só por desencargo de consciência e mandou o primeiro gole para dentro. Perfeita! Saiu do banheiro sorrindo. Sua sorte começava a mudar.