9.8.09

A Cerveja

Entrou no banheiro. Precisava dar uma mijada. O banheiro era estreito e comprido. Felizmente estava vazio. Havia um mictório comprido que ia da porta até o final do banheiro, onde uma privada aguardava. Para chegar à privada, se houvesse mais alguém mijando, certamente teria que pedir licença. Mas não havia ninguém, então ele caminhou calmamente e entrou na estreita cabine. Desabotoou a calça, desceu o zíper e tudo mais e, enquanto o líquido amarelo ia sonoramente colorindo a água dentro do vaso, ele olhava em volta. Uma garrafa de cerveja?!
Na cabine havia um desses compartimentos onde se coloca o papel higiênico em banheiros públicos, para evitar que espíritos de porco roubem o rolo. E sobre ele, uma garrafa longneck de cerveja. Heineken! Cheia! E ainda suadinha. Deveria estar geladíssima.
Ele começou a pensar em todas as possibilidades.
Alguém muito bêbado deveria ter entrado ali antes dele. O cara provavelmente já teria tomado várias. Aquela deveria ser sua oitava ou nona longneck. Isso se não tivesse tomado mais alguma coisa -- talvez uísque, talvez vodka, uma caipira. O cara deve ter entrado cambaleando. Acabara de pegar aquela Heineken. Veio se escorando na parede e, por perceber que seu centro de equilíbrio havia desaparecido, decidiu mijar na cabine. Ao entrar na cabine, deu graças a Deus por haver aquela mesinha improvisada, colocou a cerveja sobre ela, apoiou as costas contra a parede, abriu a braguilha e deixou a água escorrer do joelho. Quando se sentiu aliviado, subiu o zíper novamente e saiu cambaleando. Deixou a garrafinha pra trás, sem nem se dar conta.
Teoria plausível. Porém, era muito cedo. O pubzinho acabara de abrir. Ele já dera uma volta lá dentro e vira: deveriam haver no máximo uns oito caras lá dentro e umas três meninas. E ninguém ali parecia bêbado o suficiente para protagonizar a cena que passara por sua cabeça. Além disso, o banheiro estava limpíssimo, até cheirava bem. A história teria sido outra.
Alguém entrara ali para dar uma mijada e, como ele, aproveitara o conforto da cabine da privada. Fora até lá. Para maior conforto ainda, decidira colocar a garrafa que acabara de pegar no bar sobre o compartimento de papel higiênico. Durante a mijadinha lembrara-se de que não havia ligado o alarme do carro. Saiu correndo, a cueca até recebeu alguns pingos indesejados no processo, e a cerveja ficara esquecida lá, intacta.
Gostou dessa versão para a história. Mas ainda achou que a chance de algo assim ter acontecido era muito pequena.
-- Foda-se! -- resmungou.
A chance de uma garrafa de Heineken ter sido largada no banheiro era menor ainda, e, no entanto, lá estava ela, suadinha, tão gelada que o suor ainda nem começara a escorrer. Fechou o zíper, pegou a garrafa, deu uma cheiradinha só por desencargo de consciência e mandou o primeiro gole para dentro. Perfeita! Saiu do banheiro sorrindo. Sua sorte começava a mudar.

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