28.6.12

Sobre Estereótipos e Preconceitos

Ele trabalhava no parque da cidade havia bastante tempo. Estava satisfeito. Aos 58 anos de idade, já tinha feito de tudo um pouco, como costumava dizer. Trabalhou como servente de pedreiro e chapa antes de se casar. Depois, como motorista de ônibus até que foi demitido por trocar socos com um passageiro. Quando jovem, tinha o pavio curto. Mas hoje em dia não. Era calmo, até sorridente. Estava satisfeito com sua carteira assinada, seu vale-transporte. O trabalho também não era ruim. Era calmo. O lugar era bonito. Assistia às crianças brincando, os velhos alimentando os pombos no intervalo entre uma manchete e outra do jornal diário, os jovens passando correndo com seus tênis coloridos e bicicletas tão sofisticadas quanto carros.
Mas, naquela manhã, dois grupos novos surgiram no parque. Ele nunca havia visto nenhuma daquelas pessoas por lá.
O primeiro grupo, 3 homens, por volta de seus 30 e poucos anos, entraram correndo no parque, carregando uma bola de futebol, e foram direto para a primeira quadra vazia. Ele deteve o carrinho por um momento. Já era mesmo tempo de fazer uma pausa. O que três marmanjos estariam fazendo no parque às 10 da manhã de uma terça? Será que não trabalhavam? Não é possível, pensava. Sentou-se no banco mais próximo embaixo de uma árvore frondosa que protegia sua cansada careca do sol forte. Apenas observava enquanto com um lenço secava algumas gotas de suor que começavam a surgir na testa. Os três se portavam como crianças: riam, chutavam a bola para fora do campo, gozam com a cara um do outro. E ele foi seduzido. Começou então a conjecturar sobre o porquê daqueles homens estarem ali. Deveria de haver uma explicação para isso. Tinham boa aparência, cabelos bem cortados, barbas feitas, usavam meias brancas e tênis, shorts e camiseta. Um deles também tinha um boné. Poderiam estar de férias, imaginava, ou talvez são autônomos e hoje é um dia fraco para o negócio deles. Poderiam ser professores e trabalhar à tarde e à noite. Bom, alguma coisa assim seria. Foi quando chegou o segundo grupo.
Cinco jovens, por volta dos 20 e poucos anos, e dois bebês. Os jovens usavam calças jeans ou bermudas xadrez. Alguns usavam camisetas largas, outros estavam sem camisa. O mais velho deles carregava o menor dos bebês no colo. Tinha os cabelos compridos e não usava camisa, ostentando uma enorme barriga e muitas tatuagens. O bebê tinha pouco mais de 1 ano, como se tivesse a pouco aprendido a caminhar com as próprias pernas. Traziam skates e se dirigiam para a pista. O ex-motorista de ônibus decidiu então que sua pausa se prolongaria um pouco mais. Percebeu rapidamente que os bebês eram filhos do rapaz tatuado, pois chamavam-no de pai quando queriam demonstrar alguma manobra, como ficar em pé em cima do skate. Ele não dava muita atenção. Estava ocupado com as suas próprias manobras na pista e com a atenção que não dava, mas recebia dos outros jovens. O que esses jovens estariam fazendo ali àquela hora em pleno dia de semana? Certamente um bando de desajustados, pensava apoiado ao carrinho preparando para se levantar. Certamente usam drogas, concluiu.
Guardou o lenço no bolso e seguiu em frente, empurrando seu carrinho, balançando a cabeça em reprovação.