27.2.08

Bonanza da Insatisfação

Estava sentado no sofá. Avaliava sua vida. Pensava na casa, na esposa, nos filhos. Olhava para a janela e pensou, sou um infeliz. Tinha tudo e não tinha nada.
De repente a janela começou a se abrir. Sentiu que seu corpo era puxado, como que por um vento, em direção à ela. De entreaberta a janela passou a se arreganhar. Agora sentia realmente que seu corpo era sugado para fora através da janela. Olhava em volta e percebia que todos os móveis e a TV continuavam lá, parados, enquanto ele já procurava algo em que se agarrar. A força da sucção aumentou. Percebeu nesse momento que sucção não era a melhor palavra para descrever o que ocorria. Estava sendo expulso de sua casa por uma força desconhecida, talvez magia negra.
Caiu do sofá. Seu corpo batendo pesadamente contra o chão e escorregando, escorrendo em direção à janela como se a sala estivesse tombando tal qual um navio em alto mar. Se agarrou ao sofá, mas a força estranha o puxava ainda mais forte agora. Sentiu seu peso diminuir e percebeu que a gravidade já não mais era suficiente para mantê-lo ali. Não conseguiu mais se segurar e, num estouro, foi cuspido para fora da sala, fora da casa, fora da sua própria vida.
Abriu os olhos. As luzes do quarto estavam apagadas. Sua mulher ressonava ao seu lado enquanto sentia a camisa do pijama grudada à pele pelo suor.
Melhor voltar a dormir, pensou, amanhã é segunda-feira.

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