7.12.07

Chuva e Moto

Reinaldo havia combinado de visitar Léia e Pedro. Eles haviam acabado de ter seu primeiro bebê. Era um domingão no meio de feriado. Não havia trânsito algum. Eram onze horas da manhã quando acordou e o sol brilhava alto no céu. Ao abrir a janela todo o rosto de Reinaldo se transformou em um sorriso.
- Dia perfeito para andar de moto!
Pensava nas cervejas que tomaria com Pedro, no almoço que Léia cozinharia, nos risinhos e chorinhos da bebezinha, e na deliciosa trajetória até a casa deles, de moto.
Colocou uma bermuda, uma camiseta e calçou um tênis. Pegou o capacete e uma jaqueta jeans. Para a volta, ele pensou.
Já dentro do elevador, descendo para a garagem, dava uma conferida no visual. Estava admirado do tanto que havia rejuvenescido após 2 meses de ter se separado. Ainda pensava em sua ex-mulher, mas estava agora exatamente onde queria estar. Tá certo que se continuassem juntos ele realizaria o sonho de ter filhos muito mais cedo, mas a que preço? Cláudia era uma super mulher, mas eles dois juntos, definitivamente, não funcionavam. Eu posso esperar mais uns dois anos, pensava.
A liberdade que experimentava era algo totalmente novo e ao mesmo tempo atraente. E a moto representava tudo aquilo.
Lembrava-se rindo do dia que havia dito a sua mãe sobre a moto:
- Mãe vou comprar uma moto.
- O quê? Por quê? Você só pode estar querendo me matar. Viu, Nestor, seu filho quer me matar! Quer me matar!
Nestor, o pai de Reinaldo, apenas olhava para ele com um sorrisinho no canto da boca e acenava com a cabeça como quem dizia: Vá em frente! Virou-se para Mirna, a mãe de Reinaldo e disse:
- Agora ele é MEU filho, né? Quando ele se formou ele era nosso filho. Me lembro muito bem.
Reinaldo tinha que sair da sala para não gargalhar na frente dos dois.

Bons tempos o agora.

Ao chegar na garagem, não se conteve, namorou a moto por uns bons 5 minutos antes de subir e dar a partida.
Algumas voltas pelo bairro e muitas aceleradas depois, ele estacionava em frente ao prédio onde moravam Léia e Pedro. Tocou o interfone, falou com o porteiro e subiu.
Como havia previsto, havia uma bela mesa preparada: pães de queijo e almôndegas. Pedro já o recebeu entregando uma cerveja. Léia estava no quarto alimentando Giordana, a bebezinha. Ela era linda e, como todo bebê querido, muito desenvolvida para a idade.
Pedro e Reinaldo comiam e bebiam quando Léia saiu do quarto.
- E aí, Rê?
- Pô, sua cabeçuda, já disse para você não me chamar de Rê. Parece nome de mulher.
- Oi, Rê. Já fez as unhas hoje? - Pedro não deixava escapar uma oportunidade de sacanear Reinaldo.
Passaram o resto do dia rindo e brincando com Giordana. Lá pelas 6 da tarde, Reinaldo se levantou da mesa e proferiu as mesmas palavras que sempre dizia ao ir embora da casa de Pedro:
- É dura a dor do parto, mas...
- Brinca mesmo. Não foi você que experimentou. - Léia acrescentava. Os três caiam na gargalhada.
Assim que Reinaldo pôs a mão no capacete, um temporal se formou.
- Se fudeu! - disse Pedro quase caindo da cadeira de tanto rir.
- Cara, são essas coisas que valem a pena quando se tem uma moto: as estórias para as gerações futuras.
Se despediram e Reinaldo foi para o elevador. Enquanto descia, pensava, ainda bem que a roupa de chuva está no Top Case.
Ao sair do elevador, no entanto, percebeu um problema que se apresentava. Teria que correr até a moto, que havia ficado estacionada a uns 50 metros da entrada do prédio. Colocou o capacete sobre um dos sofás que ficavam no lobby, e foi falar com o porteiro.
- Ô chefe, eu vou na moto buscar a roupa de chuva. Cê abre o portão pra mim quando eu voltar?
- Sem problema.
Correu até a moto, abriu o case, pegou a capa, ainda deixou a chave cair no chão, pegou-a novamente, fechou o case e voltou para dentro do prédio.
Enquanto lutava para entrar dentro da roupa, a porta do prédio se abriu novamente. Uma mulher entrava um pouco cambaleante e sorridente. Estava um pouco "alta", mas Reinaldo ficou embasbacado com sua beleza.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou ela com um sorriso no canto da boca.
- Estou lutando com minha roupa.
- Cê vai sair? Nessa chuva?
- Ué, cê num acabou de chegar?
- Mas eu vim de carro.
- E eu vou de moto.
- Ah, essa eu quero ver.
- Então você é minha convidada a assistir.
Terminou de colocar a roupa e a chuva se intensificou. Foi andando para o lado da porta bem lentamente e parou. Ficou olhando a chuva engrossar. Cacete! Nesse pé d'água até com essa roupa eu vou me encharcar, pensava.
- Então?
Ela havia se sentado no sofá. Reinaldo se virou e viu que suas pernas eram perfeitas. Tirou os olhos rapidamente dali. Tentou disfarçar.
- Não era eu que iria assistir você? - ela perguntou com um sorrisinho na boca.
- É, mas agora estamos assistindo a chuva. - tentou desviar o assunto. Sentia seu rosto queimando ao ter sido pego no flagra. Ela continuava sorrindo.
- Você mora aqui?
- Não, vim visitar um casal de amigos.
- Não é a Léia e o Pedro?
- É. Cê conhece eles?
- Claro. Sou vizinha de porta deles.
- Ah, legal. Conhece a Giordana?
- Ela é linda, não é?
- Linda.
Continuaram falando de Giordana. E Reinaldo finalmente se apresentou.
- Ah... meu nome é Reinaldo.
- Legal. - ela respondeu. Não sorria mais.
Reinaldo achou melhor ir embora. Foi se dirigindo para a porta quando ouviu a moça gargalhar atrás dele.
- Isso sempre funciona. - ela ria e ria.
Reinaldo não estava entendo.
- Desculpa. Dá pra explicar o que é tão engraçado?
- Você disse seu nome e eu fechei a cara. Todo homem fica puto com isso. - e ria mais.
Reinaldo sorria sem graça.
- Vamos subir pra casa da Léia e esperar a chuva passar. - ela propôs.
- É. Acho que é melhor, até a chuva parar.
Reinaldo começou a tirar a roupa de chuva, mas foi interrompido:
- Reinaldo, não tira essa roupa. Tá muito engraçado. A Léia vai rir muito. Cê tá parecendo um astronauta.
Reinaldo sorriu de novo e concordou com a cabeça. Ela abriu a porta do elevador pra ele e disse:
- E o meu nome é Patrícia, viu?

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