2.12.07

O Varal

Leonardo acordou naquele domingo depois do meio-dia. Sabia que havia muita coisa para ser feita mas se permitiu ficar na cama até mais tarde. Pô, sou filho de Deus também, né, pensou. Quando finalmente conseguiu se colocar de pé, Tânia já o esperava na cozinha. Ela também havia se levantado há pouco tempo e o aguardava com o café pronto.
- Bom dia, meu bem!
- Bom dia.
Leonardo se abaixou para dar um beijo em sua testa. Ela sorriu para ele.
- Cê tá lembrando que tem que arrumar o varal, né?
- Tô. Pode deixar. De hoje não passa.
Tomaram o café da manhã e enquanto Tânia ia ler o jornal, Leonardo foi para os fundos da casa para iniciar os trabalhos dominicais, como ele chamava esses pequenos consertos que fazia pela casa, sempre aos domingos, pois era quando tinha tempo.
Olhou para o varal: estava todo embolado. Era um desses varais sofisticados com duas peças de plástico em cada ponta. Uma mesma linha ia e voltava de uma peça para a outra formando 5 varais. Com a última chuva, as linhas haviam se enrolado.
Leonardo, primeiro, desmontou as peças de plástico para soltar as linhas e fez a primeira constatação: as linhas estavam amarradas com nós. Cegos.
- Tânia! - gritou - será que você consegue soltar esses nós?
- Nem vem! - ela respondia também gritando lá de dentro - Fiz a unha ontem...
Leonardo pensava e não via outra saída: teria que cortar as linhas para conseguir arrumar o varal. Puxou novamente as peças de plástico para perto de onde ficavam fixadas e calculou a distância e o tanto de corda que precisaria. Ainda tentou mais uma vez soltar os nós. Usou as unhas, depois os dentes, e, finalmente, já estava futucando entre o nó com o canivete suiço que seu pai havia lhe dado. Nada! Os nós estavam mesmo muito apertados.
É, vou ter que cortar, pensou resignado. Tentou medir mais uma vez a distância entre as paredes opostas às quais ficavam fixas as peças de plástico. Não posso cortar demais, avaliava, ou vou perder a linha. Pegou o canivete, respirou fundo e...
- Seja o que Deus quiser!
Depois de cortar as linhas, tudo ficou mais fácil. Passou a primeira volta, fazendo o primeiro varal, passou a segunda, a terceira, a quarta e...
- Merda!
Havia cortado demais. A linha agora não era suficiente para formar 5 varais.
- Que foi? Por que cê já tá bufando? - era Tânia que havia ouvido o sonoro "merda" de Leonardo.
- Cortei demais a porra da linha.
- Pois é. Você devia ter analisado melhor. Não tem como emendar esse tipo de linha.

Quando a ação é definitiva, pensar duas vezes não é o bastante.

No comments: