5.12.07

O Artesão

Um artesão tentava
Criar a mais bela escultura
Fazia e refazia a mesma peça
Aparava, limava, talhava
Não era boa o bastante
Nunca

E ele continuava trabalhando
Com formão, com martelo
Até que a peça sumia
E ele então recomeçava

Um dia desistiu
Parou o entalhe no meio
Decidiu não terminar a peça
Simplesmente a jogou longe
E nunca mais pegou no formão

Meses, anos, décadas se passaram
O artesão sempre se lembrava
Com pesar e com ternura
Da peça que jogara fora

Até que certa vez
Passando por um povoado
Distante e distinto de seu próprio
Encontrou uma feira de artesanato

Decidiu admirar as peças

E qual não foi sua surpresa
Ao rever aquela beleza
A mesma peça que antes jogara fora
Enfeitava aquela feira agora

"Quanto quer por esta peça?"
Perguntou ao vendedor
"Essa peça não está à venda.
Seu valor é incalculável.
Não se conhece o autor."

"Mas fui eu quem a fez.
Eu que a esculpi."

E o vendedor então
Entregou-lhe ferramentas
Depois, um bom pedaço de madeira
"Então faça algo para eu ver."

Mas o artesão já não sabia mais manusear as ferramentas
"Estou velho e sem prática."

"Sem saber se é verdade,
Se foi mesmo você quem a esculpiu,
Não poderia entregar-lhe a peça.
Por outro lado,
Se não mente,
E é, de fato, o artista
Não merece também a peça.
Desperdiçou seu dom."

4 comments:

Felipe said...

minha preferida, so far...

abraço

Bruno Guima said...

engraçado... a gente nunca sabe o que vai dar leite, né?

Anonymous said...

Nem mesmo quem se tornou especialista em tirar leite das pedras....

Bruno Guima said...

mas será o benedito? dá pra assinar aê?!