6.12.07

Sala de Espera

Era dia de dentista. Roberto já sabia. Acabara de se levantar e o celular tocara lembrando-o desse compromisso. Resolveu dar uma olhada nos dentes enquanto colocava pasta na escova. Pensava, o que será que ele vai dizer hoje, que tem placa, que tem tártaro.
Como a maioria das pessoas que já estiveram em um consultório odontológico, Roberto odiava visitar o dentista. Porém, ele não tinha medo do que o dentista fosse fazer. Não tinha medo de qualquer dor que pudesse sentir enquanto estivesse sentado... ou melhor, deitado, de boca aberta, a mercê do inimigo número 1 das fábricas de guloseimas. Não, isso não. O problema era a sala de espera.
A sala de espera de dentistas ou médicos é sempre a pior parte da consulta. Seja para quem tem medo da consulta em si, ou para quem simplesmente odeia esperar. Estar na sala de espera te emperra a vida. E para Roberto isso era uma tortura. Roberto sempre trabalhou como programador. Nunca teve que cumprir horário, mas trabalhava de 12 a 14 horas por dia. Ter que ficar em uma sala, parado, ao lado de pessoas estranhas, sem ter o que fazer era algo que ele mal podia suportar.
Mas dessa vez seria diferente. Roberto estava preparado para tudo. Levaria seu laptop. Poderia adiantar algum projeto em que estivesse trabalhando. Ou mesmo jogar paciência. Não, isso não ia rolar. Ele nunca conseguira jogar paciência, por motivos óbvios. Além do laptop, Roberto também levaria uma revistinha de Sudoku. Era sempre importante ter um plano B. E se existia algo que conseguia transportá-lo de onde estivesse eram os desafios de Sudoku.
Checou a mochila antes de sair de casa. O laptop estava devidamente armazenado dentro da mochila, juntamente com sua revistinha. Pegou as chaves do carro e deixou o apartamento.
Passou algum tempo no trânsito. Tempo esse que usou para se colocar em dia com as últimas notícias transmitidas pelo rádio de seu carro.
Enfim, chegava ao consultório. Estacionou o carro na garagem que ficava no subsolo e tomou o elevador. Em sua companhia, um senhor de espesso bigode e ainda mais espessas lentes nos óculos. O senhor lia uma revista e assobiava uma bossa nova. Mas Roberto estava concentrado no display do elevador. Enquanto acompanhava os números que iam crescendo, contava mentalmente: mil e um, mil e dois, mil e três, mil e quatro... No décimo andar, o senhor desceu do elevador. Antes que a porta se fechasse, Roberto ainda o informou:
- Esse elevador é muito bom. Leva apenas 5 segundos para subir cada andar.
O senhor o olhou por um momento, mas sem saber o que dizer, apenas acenou com a cabeça e seguiu seu caminho.
O elevador continuou subindo até o décimo primeiro andar, onde Roberto desceu.
Pegou a direita no corredor à sua frente e caminhou até a sala 1111. Era lá o consultório da Dra. Ângela. Entrou e se dirigiu a secretária.
- Bom dia! Tenho uma consulta agendada para as 8 horas.
- Bom dia. Só um momento, por favor - Roberto já esperava aquela resposta e foi se dirigindo para a poltrona mais próxima.
Mas antes que pudesse sentar:
- Senhor Roberto de Souza. O senhor já pode entrar. A Dra. Ângela o aguarda.
Por um instante, Roberto ficou paralizado. Tinha um olhar bobo e um sorriso idiota na face. Não acreditava na sua sorte.

No comments: