5.12.07

Tecnologia a Serviço do Progresso

Liana começava a pensar em desistir. Era o quinto Cd que tentava gravar e não conseguia. Duas mensagens de erro, um Cd "queimado" literalmente - devido à velocidade excessivamente alta do gravador -, e outros dois que, simplesmente, decidiu-se: não seriam gravados. A pergunta era: quem decidiu? Liana pensava, eu não decidi. Foi o computador? Foi o Cd? Quem decidiu?
Resolveu, finalmente, ler o manual de instruções do gravador.
- Perfeito!
Estava em inglês. Ler os textos para o mestrado era uma coisa. Era sua área. Ela já conseguia prever o que as frases diziam antes mesmo de terminá-las. Era fácil, moleza. Mas ler um manual de instruções dissertando acerca de um aparelho que se revelava cada vez mais misterioso era uma estória completamente diferente. Mas não tinha outra opção.
Começou a ler o manual. A leitura era até bem fluente. Algumas palavras transbordavam. Seu vocabulário simplesmente não podia contê-las. E eram palavras relevantes.
- Já sei. Vou procurar um tradutor online.
Entrou na internet e por alguma razão a sua página inicial - obviamente o Google - não carregava. Clicou no botão atualizar do navegador. Nada.
- Mas será o benedito?!
Foi checar os fios atrás do computador. Nesse momento pensou que as pessoas que projetavam computadores eram um bando de idiotas. Onde já se viu todas as entradas e portas ficarem na parte de trás. O computador sempre "dá pau". Essas conexões deveriam ficar mais acessíveis.
Se agaixou e tentou entrar por debaixo da escrivaninha. Percebeu que não caberia. Deduziu que teria que arrastar a mesinha maldita. Ficou de pé para perceber as conseqüências de tal ato. Havia uma quantidade absurda de coisas sobre o móvel. Tantas eram as coisas que ela própria não se lembrava de ter colocado a maioria delas ali. Bibelôs, vasinhos coloridos, cristais, dois incensários de cerâmica, um mini-gaveteiro cheio de clipes para papel...
- Dai-me forças, ó Senhor!
Como se segurasse a própria vida, agarrou-se a escrivaninha e, com movimentos muito lentos e extremamente calculados começou a movê-la. Percebeu um anjinho de vidro se desequilibrar e parou subitamente. O anjinho foi ao chão e se estilhaçou. Nessa hora pensou em se sentar no chão e chorar. Lembrou de uma de suas músicas favoritas:
- Big girls don't cry
.
Foi até a lavanderia buscar jornal velho para embrulhar o anjinho estilhaçado. Enquanto o embrulhava viu um anúncio de apartamento com "lazer completo".
- Show!
Terminou de embrulhar o anjinho e deu a ele o funeral merecido. Abriu a tampa do lixinho do escritório e o jogou lá dentro. Voltou a encarar a escrivaninha:
- Decifra-me ou te devoro.
O telefone tocou. Era seu pai. Contava de seu último fim de semana. E já no fim da conversa perguntou:
- Como vão as coisas?
Liana descreveu toda a sua aventura mal-sucedida ao tentar gravar o maldito CD. Procurou evitar palavrões, mas em diversos momentos não se conteve, ao que seu pai gargalhava. Antes de desligar, ele disse:
- Sabe quando eu vou comprar um computador? No dia em que eles funcionarem como uma televisão: você aperta um botão, ela liga; aperta de novo, ela desliga.
- Ai, pai! Só você mesmo, né, figurinha?

2 comments:

Felipe said...

esse post é perfeito pra anunciar que achei mais uma rede sem fio aberta na biblioteca da escola...

tecnologia é fueda!

abração

Bruno Guima said...

huahuahuahua