18.12.07

Terrorista Emocional

Lembro-me com carinho de cada uma das minhas 6 ex-mulheres. E lembro-me com muita clareza o que fez cada uma delas desistir de mim. A minha grande sorte sempre foi o meu charme inicial. Cativo sempre ao primeiro olhar, no primeiro bate-papo, no primeiro beijo, na primeira transa. O meu trunfo é a capacidade de me adaptar a cada uma delas. Porém, como disse alguém, o seu ponto forte é a sua fraqueza. E a minha é exatamente essa. Posso esmiuçar os detalhes de cada fim de relacionamento. Mas com certeza a minha inconstância (ou a minha adaptabilidade a novas situações) foi, certamente, ponto comum em todos os fins.
A primeira foi Priscila. Éramos muito jovens. Não éramos mais virgens, no entanto. Estávamos na faculdade. Acho que cursávamos o segundo ano. Acabávamos de descobrir o prazer do sexo livre e queríamos agora algo mais profundo. O fato de já sermos grandes amigos com certeza contribuiu para que acabássemos nos unindo nos laços nem tão sagrados assim do matrimônio. Sempre acreditamos, e, realmente, ainda acredito, que um casamento deveria ser baseado em bom sexo acompanhado de muita conversa. Mas, como já disse, éramos jovens demais e não estávamos preparados para as peças que a vida prega na gente. Eu com meus 22 anos, no auge de minha libido perturbada, não poderia esperar ser fiel a Priscila, por mais redondos que fossem seus seios perfeitos, por mais lourinhos que fossem seus pêlos pubianos, por mais rosados e doces que fossem seus mamilos, por mais suculenta que fosse sua bocetinha. Uma frase que repetirei sempre, e que como vai perceber, amigo leitor, não é minha, nem de ninguém, é de todos: se eu soubesse naquela época o que sei hoje... Na verdade, não adiantaria nada. Eu não pensava ainda com a cabeça de cima. E perdi Priscila comendo sua priminha do interior que havia vindo passar as férias conosco.
A segunda foi Renata. Também na faculdade. Nos conhecemos em uma festa. Era uma grande amiga de um grande amigo de Priscila. Estávamos em uma rodinha de amigos fumando maconha, quando isso ainda não era politicamente incorreto, ou pelo menos ainda não achávamos que era, que isso fique bem claro. E numa das voltas que o baseado deu, segurei sua mão. Eu juro por Deus! Acreditei ter encontrado a mulher da minha vida ali. O toque de sua mão na minha me fez arrepiar inteirinho - e o fato de ela não estar usando soutien naquele dia também ajudou. Renata era muito madura. E quando eu decidi largar a faculdade para abrir um bar próximo à universidade, a pretexto de ser fiel aos meus ideais, fez com que ela simplesmente se desinteressasse por mim. Senti muito sua falta, mas a cerveja me fez esquecê-la rapidamente e me trouxe Vera.
Vera era como eu. Adorava beber de segunda a segunda. Adorava trepar. Nos conhecemos no bar, obviamente. Nessa época eu já me preparava para fechá-lo. Já havia percebido o quão estúpido havia sido ao largar a faculdade. Na última noite em que o bar ficou aberto comi Vera em cima do freezer. E nos apaixonamos. Fiquei com ela até me formar. E daí nossos caminhos se transformaram. Ela continuou sendo de esquerda e eu me encantava com o neo-liberalismo defendido por minha chefe no escritório. Também me encantava com suas cruzadas de perna.
Minha chefe (nunca a palavra "minha" foi tão bem empregada) era mais velha, mais madura, divorciada. Me sentia um menino de novo com o quanto aprendia com ela sobre análise de mercado e kama sutra. Mas ela era séria demais. E no dia em que não consegui mais achar graça na sua carranca conservadora, ela percebeu a minha volatilidade. Me deixou antes que eu a deixasse. Melhor assim. Terminar relacionamentos nunca foi o meu forte. Acabar com eles sim. Destruí-los. Vê-los agonizar. Essa sim é a minha especialidade. Nunca acreditei em esforço para manter um relacionamento. Afinal, cresci assistindo filmes de Hollywood. Não se poderia esperar algo diferente de mim. O que me leva a Carolina.
Eu já com quase 30 anos pensava que havia chegado a hora de amarrar a coleira. E havia mesmo. Mas eu ainda não estava pronto. Talvez nunca esteja.
Conheci Carolina em uma viagem de férias. Minha primeira vez na Europa. Trombei com ela em uma badalada balada, badalada balada, badalada balada em... Barcelona. A princípio eu não tinha a menor intenção de beijá-la. Acho que ela também não. Estávamos os dois tão carentes de brasileiros - imagine, eu estava havia apenas 2 dias na Espanha - que só queríamos conversar sobre política, feijoada, pão de queijo e guaraná. Não que ela não fosse bonita. Era linda! Perfeita! Mas não foi isso que nos uniu a princípio. Foi simplesmente o prazer de conversar com alguém que falava sua língua. Alguém que entendia as piadas que você fazia. Alguém que tivesse algo em comum. E o tempo que passamos juntos na Europa foram os melhores 6 meses da minha vida. As conversas eram fantásticas. Falávamos de tudo: antigos casos, unha encravada, decoração, machismo, feminismo. O sexo era perfeito: nem filme pornô, nem novela das seis. Mas ao regressarmos ao Brasil, eu então com 29 anos, em pleno retorno de Saturno, comecei a reavaliar tudo. Reavaliava a minha vida pessoal, a minha vida profissional, mas não tomava decisão alguma em relação a nada. Simplesmente não conseguia. Meu terapeuta diz que eu não queria tomar decisões. Essa foi a maneira que encontrei, ainda segundo meu terapeuta, de sabotar mais um relacionamento. E eu dizia: não! A culpa é da minha mãe.
Quando cheguei nos 30, finalmente uma decisão. A de não mais me envolver se não fosse para sempre. Devo ter ficado solteiro por umas duas semanas, até conhecer Giovana. Entre Carolina e Giovana houveram outras por quem me apaixonei, mas não tão importantes como aquelas que considero minhas 6 ex-mulheres.
Giovana talvez tenha sido a mais importante. Ou talvez eu tenha essa impressão por ela ter sido a última. Nos conhecemos no trabalho. Como eu já disse, havia decidido ficar solteiro. Então, qualquer mulher que começasse a conversar comigo, passaria a ser tratada como uma freira. Sempre tive umas fantasias meio sacanas, sabe? O fato é que conviver com uma mulher bonita e inteligente diariamente sem nunca tê-la fodido vai contra a minha natureza. Pensava que Giovana não seria a primeira. Era casada à epóca. Ou melhor, morava junto, o que dava no mesmo. E estava cada vez mais desgastada pelo relacionamento. Aparentemente seu marido era apenas uma versão piorada de mim mesmo. Um pouco mais jovem, mais afoito, ainda não muito experimentado na arte de tornar uma mulher completamente satisfeita.
Sim, eu sei fazer isso. Mas me saboto. Já nem sei mais se faço isso inconscientemente, como afirma meu terapeuta, numa tentativa infantil de frustrar os planos de ter netos de minha mãe, ou se o faço deliberadamente.
Fato é que convivendo com Giovana diariamente tinha eu todas as oportunidades de mostrá-la o quanto eu era interessante se comparado ao cara com quem ela dividia o mesmo teto havia quase 3 anos. Eu era o cara bem sucedido que ela acabara de conhecer. Representava o novo com tudo que há de positivo nessa palavra. E também ficou muito fácil pra ela, com aquele sorriso de musa, aquele rosto de atriz de cinema, aqueles seios perfeitos, me convencer a abandonar os planos de ser solteiro.
Giovana tinha seu apartamento. Eu tinha o meu. Mas insistimos em morar juntos imediatamente. Fomos morar no dela. Pulamos algumas etapas importantes para a construção de um relacionamento saudável. Claro, tudo isso é um blá-blá-blá pré-fabricado. Estou racionalizando uma questão para mais uma vez fugir do fato de que na verdade sabotei o relacionamento. Morar com ela era muito fácil. Ela cuidava de tudo. Eu simplesmente sentava no sofá. Àquela altura eu já não podia imaginar que separaria mais uma vez. Já estava até pensando em ter filhos. Mas Giovana era forte demais pra deixar se levar em um relacionamento nitidamente sem futuro. Não seria o fato de ela ter mais de 30 que a faria aceitar qualquer um. E isso só me faz admirá-la mais.
Ela finalmente me botou para fora da casa e da vida dela há duas semanas.
E cá estou eu, escrevendo esse diário, como me recomendou meu terapeuta, esperando minha próxima vítima.

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