6.3.09

Your House

Com a chave na fechadura ela começou a rezar. Ele costumava ficar em casa até mais tarde depois do almoço nas segundas. Mas isso era antes. Os hábitos haviam mudado.
Destrancou a porta e entrou soltando o ar pesado que carregava nos pulmões. Deixou cair a bolsa no chão da sala como tantas outras vezes. Não. Agora era completamente diferente. Subiu a escada que dava para o quarto. A cama de casal estava impecavelmente arrumada. Não resistiu, deitou-se nela.
Sentia o cheiro dele. Abriu o guarda-roupa e se sentiu engolida por tudo. Foi até o banheiro e se despiu -- sem se preocupar onde as peças que usava caíam. Entrou no chuveiro e deixou a água cair sobre seu corpo trêmulo de soluços. Sentia o chão frio em suas nádegas e a água quente em suas costas desprotegidas. Saiu do chuveiro e vestiu-se com o roupão dele. No armário do banheiro, o vidrinho de perfume a torturava.
Desceu as escadas novamente e foi até o escritório. Acendeu um incenso. Vasculhava os CDs. Sabia que nenhum daqueles eram seus. Eram todos dele. E viu um pedaço de papel sobre a mesa. Era uma carta de amor. Mas não era sua letra. Nem mesmo saberia dizer de quem era aquela letra que falava todas as coisas que ela um dia dissera.
Finalmente, vestiu novamente suas roupas e foi embora, deixando para trás as chaves do apartamento, a porta destrancada e um pedido de desculpas.

1 comment:

Anonymous said...

a quanto eu nao estava aqui. a quanto nao estamos juntos. digo não perto, juntos sempre. E ler voce continua sendo demasiadamente surpreendente, as vezes nao sei pra quem escreves, as vezes leio como se fosse pra mim , e se nao for nao importa, importa que estejas amando e amando vai continuar a escrever, e eu a ler..e ambos continuamos felizes mesmo que a distancia.
se cuida doce.