Cada Um Com Seus Problemas
Sentou-se na mesa do café e acendeu um cigarro. Olhou em volta e viu um casal de homens trocando juras de amor. Pensou, se eu fosse gay, minha vida seria tão mais fácil. Nesse momento seu celular tocou.
- Alô.
Do outro lado da linha a voz de Fabíola estava trêmula.
- Jaime, onde cê tá?
- Tô tomando um chopinho em um café. O que aconteceu? Cê tá chorando?
- Preciso muito de você agora. Me dá o endereço que vou praí.
Jaime passou o endereço do café e, antes de deixar Fabíola desligar, ainda perguntou:
- Tem certeza que cê tá bem pra dirigir?
- Tô. - disse ela com voz de criança que perdeu um brinquedo.
Assim que Jaime terminou o primeiro chope, percebeu que Fabíola estacionava o carro na rua do café. Ela desceu do carro estabanada, tresloucada, parecia meio perdida. Deixou cair a bolsa no chão. Se abaixou para pega-lá e antes de se levantar novamente, aproveitou para pegar um cigarro. Se levantou cambaleante. Os óculos escuros escondiam os olhos vermelhos de pranto. Acendeu o cigarro enquanto caminhava até a mesa onde Jaime estava sentado.
Jaime a observava e admirava o fato de que, mesmo estando em pedaços, como ela aparentava estar pelo telefone, ela conseguia ser linda. Ele sempre achara que a beleza, interior e exterior, de Fabíola seria o suficiente para encher um estádio de futebol. Quem não pagaria um ingresso para estar em sua presença? E ele, um privilegiado, tinha aquilo todos os dias, sem precisar pagar nada.
Jaime se levantou para abraçar Fabíola. Ela chorava baixinho.
- A Lívia terminou comigo. - ela disse baixinho em seu ouvido.
Ele tentou acalmá-la. A apoiou para que ela se sentasse à mesa. Sentou também.
- O que aconteceu? - Jaime perguntou.
- Não sei. Ela me pediu um tempo. Pelo telefone. Sem explicação.
Agora Fabíola se recompunha. Usava um guardanapo para limpar as lágrimas por baixo dos óculos escuros. E acrescentou olhando para Jaime:
- Ai, Jaime, minha vida seria tão mais fácil se eu não fosse gay.