Para Longe de Nossas Janelas
As pessoas se incomodavam. Era realmente doloroso e amargo observá-la ali, sozinha, aparentemente abandonada. Especialmente em dias frios. Me machucavam o edredon e o chocolate quente dos quais me beneficiava enquanto a assistia se cobrir com caixas de papelão.
Me lembro de quando a levaram. Já haviam tentado antes, muitas vezes, com menos energia. Funcionários da prefeitura, de quando em vez, vinham e conversavam com ela. Da janela do meu apartamento eu não conseguia ouvir o que diziam, mas entendia que ela não queria ir pelas sacudidas de cabeça de um lado a outro, pelo olhar confuso e perdido e pelo nariz torcido dos funcionários da prefeitura. Mas um dia não houve conversa. Chegaram em uma van. Dois homens desceram e a agarraram. Ela se debateu, mas foi dominada rapidamente. Levaram-na.
Não sei para onde ela foi. Sei que foi contra sua vontade para tornar nossa vizinhança um lugar menos desagradável.
1 comment:
Belo!!! Tanto a sensiblidade quanto a habilidade com as palavras na leitura do cotdiano e a catarse necessária para que possamos sobreviver com mais leveza. Apesar dos arredores e cirucunstãncias, por vezes, tão pesados. Beijo grande.
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