A Rosa
Andava pela praça, como fazia todas as manhãs, quando a viu. Nunca, em toda sua curta existência, havia colocado os olhos em algo tão belo. Esqueceu-se de onde ia, o que faria. Esqueceu-se de si. A rosa o havia laçado.
Seus pés, cada vez mais rápido, se moviam, levando-o para perto daquela rosa grande e vermelha. Estava a menos de um metro. Podia já sentir seu perfume. Agachou-se, olhou em volta. Sentia-se envergonhado por não conseguir controlar sua vontade daquela forma. Olhava em volta para ter certeza de que ninguém o vigiava.
Olhou para a rosa novamente. Tinha ainda pequenas gotículas de orvalho em suas pétalas que, embora dessem um ar melancólico à rosa, também realçavam sua perfeição. Tocava as pétalas, sentia o toque doce na ponta de seus dedos. Estava em enlevo.
Foi aí que se lembrou. Já havia estado ali. Já havia se ajoelhado frente àquela obra da natureza, tantas e tantas vezes. E lembrava-se de como havia a descrito antes: ela era plástica!
Lembrava-se também dos espinhos. Mas queria tanto tê-la. Sabia também que a rosa morreria se dali fosse arrancada.
Decidiu não tocá-la. Levantou-se e seguiu seu caminho, voltando os olhos, vez ou outra, por cima do ombro, enquanto podia, tentando guardar cada detalhe daquele encontro.