28.11.08

Ticket to Ride

Ticket to Ride

Eu cheguei em casa e ela estava sentada na poltrona que eu herdara do meu avô. Estava usando um daqueles vestidos de hippie que tanto gostava. Era preto, de algodão, com retalhos multicoloridos na barra. Percebi que usava todos os seus anéis. E isso só acontecia em ocasiões muito especiais. Foi nesse momento também que notei a mala velha a seus pés. Era uma mala muito velha, de couro cor de ferrugem. Estava estufada. Junto a ela, aquela bolsa de renda enorme que usávamos para ir à cachoeira em dias de domingo. Uns vão à missa. Nós íamos à cachoeira.
Eu entrei e antes que fechasse a porta atrás de mim, ela se levantou. Colocou a bolsa no ombro. Agarrou a mala velha, com muita dificuldade, com a mão esquerda. Me mostrou uma passagem que tinha nas mãos. O bilhete era para São Paulo. Não disse nada. Me deu um beijo na testa. E saiu pela porta. O sonho acabou ali.

No comments: