6.6.08

Auto-controle

Olhou para o celular e viu que era ela. Como ela havia prometido no email, às 11:30 ela o telefonava. Depois de 15 anos sem vê-la, ele não sabia como reagiria ao reencontrá-la. Não devo fazer isso, repetia para si mesmo enquanto do celular ecoava uma versão de Garota de Ipanema.
- Alô.
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo. Eu disse que ia ligar.
- É.
- E você atendeu.
- É.
- Então é por que você também quer.
No email que enviara, ela o convidava para um almoço. Dizia que o marido estava fora da cidade a negócios e não tinha hora para voltar. Sérgio já havia feito sua inscrição para um Congresso que aconteceria no Rio naquele fim de semana.
Ele enfim respondeu:
- Não tenho certeza.
- Bom, não quero te pressionar. Vou te esperar aqui. Se você não chegar em uma hora, eu vou entender que você desistiu.
Desligaram. Sérgio estava atormentado. Sabia que o que fazia era errado, imoral. Amava sua mulher. Amava seus filhos. Amava sua vida perfeita de homem bem casado e bem sucedido. Mas sentia muita falta do gosto da aventura. Gosto muito bem representado por Sílvia. E ela o esperava a menos de 15 minutos dali.
Finalmente decidiu-se. Vou lá rapidinho, pensava, dou um alô pra ela, como alguma coisa e vou me embora. Não havia nada demais em rever uma velha amiga. É verdade que Sílvia era bem mais do que uma velha amiga. Mas naquele instante Sérgio decidira tratá-la assim. Ligou para seu escritório e falou com sua secretária:
- Solange, como está minha agenda para hoje?
- Não tem nada não, Seu Sérgio. O contador ficou de vir aqui, mas desmarcou.
- Tá certo. Pode fechar e sair mais cedo então.
Sua mente estava fervilhando. Tinha esperança de que houvesse algum compromisso inadiável que o obrigasse a voltar depressa para o escritório. Bom, em todo o caso, ele poderia sempre inventar alguma desculpa.
Quando estacionou o carro, sentiu a transpiração escorrer pelas costas. Deu uma olhada no retrovisor. Os cabelos grisalhos o lembravam de suas responsabilidades. Saiu do carro afoito.
Assim que entrou no restaurante, avistou Sílvia. Perfeita como sempre. Antes de caminhar até a mesa onde ela estava sentada, respirou fundo e disse baixinho para si mesmo:
- Dane-se!

1 comment:

doido said...

muito bom kra....
quantas vezes deixamos de fazer coisas que queremos pra manter a aparencia e o q as outras pessoas iriam pensar de vc....
foda pra caraleo isso....