9.12.13
O Primo
Dans La Maison
22.3.13
Tudo Muda. ou Melhor ou Pior? ou Diferente.
É até cliché comentar isso, mas acho que é a melhor ilustração para o que eu quero dizer. Pensa em aparelhos de emissão sonora. Até o final dos anos 70, o que rolava era o vinil, o LP. Tinha que ter uma vitrola (toca-disco) para ouvir sua banda favorita. Imagina o cara sentado em uma sala de estar, ouvindo um disco do Caetano, segurando a capa do disco retratando o cantor com aquela cabeleira farta e rebelde. Depois surgiu o toca-fita. Ficou muito prático carregar as suas músicas prediletas. Elas cabiam no seu bolso. Depois veio o walkman e você não só carregava as músicas no seu bolso, ainda que com certo volume, mas as ouvia enquanto caminhava (daí o nome do aparelhinho). Isso sem falar que a experiência passou a ser individual, quando antes ela era necessariamente, forçosamente, compartilhada (funkeiro no buzão). A liberdade individual tomava novos rumos. Depois veio o CD. E, embora o tamanho do discman não seja tão diferente do walkman, a qualidade do som é inquestionável. As fitas se deterioravam rápido com o uso. Depois veio a era do mp3. Estamos nessa era. E, para fechar o meu argumento, agora compare a distância temporal entre uma mudança e outra. Quanto tempo entre o lançamento do toca-disco e do toca-fita? Quanto tempo entre o CD e o mp3? Percebe?
Mas o lance dos aparelhos de emissão sonora é só uma ilustração. Vamos falar sobre algo que gera mais repercussões: as relações interpessoais. O conceito de rede social existe há muito tempo (muitas décadas, talvez séculos, não sei), mas só agora ele tá na boca do povo. E o que tem me chamado a atenção é a maneira como as novas redes sociais se formam e como elas são superficiais e frágeis. E aí, fazendo uma analogia com os toca-fitas e mp3 players, pensa em como seria você falar sobre seu dia para alguém nos anos 70 e como é hoje. Eu não vivi nos anos 70, mas imagino que, se você quisesse contar para alguém sobre alguma experiência que teve, teria que conversar com a pessoa. Talvez você pudesse telefonar para essa pessoa. Talvez pudesse mandar uma carta (o que demandaria bastante tempo, tanto na confecção da carta quanto no processo de fazê-la chegar ao remetente, e esse tempo, em geral, te dava a oportunidade de se esmerar). E hoje? Você tira uma foto com seu celular, posta no facebook e escreve uma linha e meia descrevendo ou comentando a foto. Pronto. O mundo inteiro viu. Rápido, não? Mas a questão é: isso é melhor ou pior? Tenho percebido que as pessoas não precisam mais se esforçar para se expressar. Não há muito o que pensar, não dá nem tempo. Eu tô vivendo aquilo e, naquele mesmo minuto, já tô dizendo pro mundo que aquilo tá acontecendo comigo. O que me preocupa é que às vezes, essa rapidez não nos dá tempo para refletir sobre a experiência, sobre seu significado (se é que teve algum), e, de repente, já tá lá, para todo mundo ver (ainda que ver não seja enxergar), todo mundo saber. E aí, das duas uma:
1. Experiência vazia: Você publica um monte de coisa sem significado algum, por que não dá tempo para refletir sobre se houve ou não algum siginificado e, consequentemente, se valia ou não a pena publicar.
Ou...
2. Experiência significativa transformada em experiência vazia: Você publica algo que teve sim um significado enorme para você, mas, da mesma maneira, não acrescenta muito, por que foi rápido demais e você nem mesmo teve tempo de perceber esse significado. E, pra piorar, como tudo acontece tão rápido, provavelmente aquela sua publicação que teria significado, vai ser sobrepujada por um mar de outras sem significado algum.
Já tentou achar uma postagem antiga no facebook? O que é uma postagem antiga? Quantas postagens surgiram na sua timeline nas últimas 24 horas? Quantas dessas tiveram siginificado? Cês entendem a minha questão?
O surgimento dessas novas redes sociais, as virtuais, através da net, certamente deve ter funcionado como um canal para diversas pessoas que se sentem embaraçadas em contextos sociais concretos. E, a César o que é de César, eu reconheço esse valor. Porém, ao mesmo tempo, parece que o surgimento desse canal tirou dessas pessoas a necessidade de se esforçarem um pouquinho e desenvolverem habilidades que elas não tinham (agora nunca terão). Mas será que elas vão precisar dessas habilidades no mundo de hoje? Essa é uma pergunta que ainda não consegui responder definitivamente. Em geral, posso afirmar que ainda há uma necessidade de saber socializar presencialmente, na maioria dos contextos. Essa necessidade, contudo, vem diminuindo. Vão surgindo novas relações que permitem que uma pessoa passe sua vida toda dentro de casa, sem nunca se relacionar fisicamente com seus pares. Só não sei se isso é bom. Ou ruim. Ou simplesmente diferente. Você sabe?
Dedicatória: Como não tenho escrito muito ultimamente, a partir de hoje, quando o fizer, vou escrever uma dedicatória para pessoas que importam. Digo pessoas por que meus textos têm ficado cada vez mais escassos, de forma que quando surgi um, eu devo aproveitar para dedicá-lo para o maior número de pessoas possível.
1. Em primeiro lugar dedico esse texto para a minha cara metade, minha linda, habilidosa, astuta, genial, brilhante, gostosa namorada. Por que ela sempre reclama que eu não escrevo mais pra ela. Eu tento explicar que eu escrevo quando tô sofrendo de amor. E ela, felizmente, só me faz feliz. Acho que eu também escrevi no começo do nosso namoro quando eu achava que nem era real, que era um sonho. Mas hoje, super, hiper, felizmente, vejo que nosso amor é real, concretíssimo.
2. Vou dedicar esse texto também pro Zuba que me deu um mousepad hoje. Só pelo mousepad? Não, ele também tem me ajudado muito com meus estudos. Então, dedico pro Zuba também.
3. Dedico também pro Rony e pro Navarro por que eles escrevem mais do que eu. Só por isso, já merecem.
4. E, finalmente, eu quero mandar um beijo pro meu pai, pra minha mãe e pra você. Esse "você" nos anos 80 seria a Xuxa. Mas hoje não é mais. Hoje é você mesmo que tá lendo esse texto. Um beijo.
20.1.13
Apostas
Sabe aquelas cadeiras triplas? Você pode encontrá-las em salas de espera, em rodoviárias, em alguns bancos (instituições financeiras). São aquelas que são uma cadeira grudada na outra, lado a lado, formando um trem em que os vagões não andam um atrás do outro, mas lado a lado.
Como nas receitas, reserve essa ideia. Precisaremos dela mais tarde. Agora vamos pra outro lugar.
É interessante como o ser humano evita o contato com outros seres também humanos em lugares públicos. Tenho a impressão de que isso é um fenômeno recente. Velhos, quanto mais velhos são, não agem assim. Se bem que, talvez por serem velhos, e aqui está outro fenômeno dos tempos mais recentes, se sentem só. E, por isso, talvez tenham o hábito de tentar se comunicar com estranhos em lugares públicos. Ainda assim, acredito que há 50 ou 60 anos, as pessoas não se evitavam tanto quanto se evitam hoje. Existe gente demais no mundo. Então evitamos o contato para não ficarmos sobrecarregados. Por isso dizemos bom dia dentro do elevador pra ninguém em particular. E baixamos a cabeça. E torcemos pra chegar logo no térreo.
O que nos leva de volta às cadeiras triplas. Se você encontra uma dessas e não tem ninguém sentado, onde você senta? Imagina a Patrícia Poeta dizendo: "A sua resposta pode falar muito sobre sua personalidade, é o que diz um estudo da Universidade de Massachusets..." Não. Não é a Patrícia Poeta. É o que eu digo, sem estudo nenhum. Eu imagino que a maioria das pessoas sentaria em uma das cadeiras das pontas, esquerda ou direita. Comportamento que eu vou chamar aqui de uma aposta conservadora. A maioria das pessoas, uma maioria até maior do que a supra-citada, preferiria sentar-se sozinha nesse tipo de assento. Só que o mundo tá cheio demais, então entende-se que há uma grande probabilidade de uma outra pessoa, um estranho, chegar e querer se sentar também.
Agora invertamos a situação.
Você chega e encontra um cidadão sentado lá. Se esse estranho estiver sentado em uma ponta, você se senta na outra. Agora, se ele estiver sentado no meio, além de eu arriscar dizer que você só vai se sentar se estiver realmente precisando, machucado ou exausto, digo que esse estranho faz apostas ousadas.
Escolher sentar-se no meio, quando as três posições estão vagas, é uma aposta ousada, se opondo à aposta conservadora de se sentar em uma das pontas na mesma situação, pelo seguinte: pela mesma razão que você escolheria sentar-se, caso uma ponta estivesse ocupada, na ponta oposta, existe uma chance menor de, caso alguém chegue, esse alguém querer sentar-se ao seu lado, o que forçaria você a dividir o assento com um estranho.
Entretanto, assim como com os investimentos financeiros, se o retorno é alto, o risco também o é. Caso o segundo a chegar esteja realmente querendo ou precisando se sentar, ele vai ignorar os costumes do nosso século, e se sentará em uma das pontas, colocando-se ao lado do nosso apostador arrojado que sentara-se na cadeira do meio inicialmente. E, se já não queríamos compartilhar o assento com um estranho com uma cadeira nos separando, o que dizer de sentar lado a lado com o desconhecido?