9.12.13

Dans La Maison

Esse texto poderia ser uma crítica sobre o filme do qual eu surrupiei o título. Mas não é. Não vai ser. Vou escrever (com enorme dificuldade, por que eu estou digitando no teclado touch do meu celular, e por que tem muito tempo que eu não escrevo nada) sobre o que eu estou escrevendo, que é esse texto. 
Já ficou acertado então que ele, o texto, não será uma crítica “cinemática”. Será, ou é, como não poderia deixar de ser, uma crônica. 
Embora eu não esteja 100% seguro sobre o nome do estilo nesse momento, os meus quase 5 leitores sabem do que eu estou falando, pois já se acostumaram a ler esse tipo de texto escorrendo lentamente dos meus dedos para o teclado do computador. 
Hoje, no entanto, há uma diferença. O texto está peculiarmente fragmentado por muitos parágrafos, coisa que eu não costumo fazer. Se bem que, devido ao formato que escolhi para o blog, é difícil dizer quando surge um parágrafo. Vou ajudá-los.

E hoje as palavras não escorrem mais, o que era muito mais fácil com a ajuda da gravidade. Hoje elas têm que se esforçar. Elas vão se ralando, se entalando, contra a gravidade, para sair dos meus dedos e chegar até o cume: a tela do celular, onde os meus olhos enxergam o produto do meu parto pela primeira vez, ao vivo e a cores, e não pelo monitor do ultrassom.

Quando o texto começa? Ali em cima eu fiquei na dúvida se usava o presente ou o futuro. Quando começa a vida do bebê para a mamãe grávida? Quando ela começa a se referir a ele como alguém que é, em vez de se referir a alguém que será?

Isso está realmente se configurando (troquei a palavra anterior umas três vezes e ainda não tenho certeza se isso é realmente o que eu queria dizer) um parto (essa, sim, era uma que eu procurava). 

O Android nos oferece uma variedade de opções gratuitas de aplicativos. Contudo, ainda não encontrei um editor de texto que funcionasse satisfatoriamente. Fora isso tem a questão desse teclado touch. É a pior invenção de todos os tempos: uma coisa sem feeling, sem vida, excessivamente virtual para mim. 

Mas, ultimamente, tenho me conformado mais com essas coisas. Virei um dinossauro mesmo. Meu maior medo é o dia em que proibirem os carros com câmbio manual. Infelizmente, eu sei que um dia isso vai acontecer. A tendência, acredito que mundialmente, é que as máquinas cada vez mais se responsabilizem pelo trabalho que seria nosso. Antes se dizia que era para que os humanos pudessem usar sua tão elevada inteligência para fins mais nobres. Mas, pelo que tenho visto, o tiro saiu pela culatra.

As pessoas não estão usando aqueles neurônios libertos pela tecnologia para um fim mais nobre do que, por exemplo, trocar as marchas de um carro. Na verdade, as pessoas simplesmente não estão usando mais aqueles neurônios. Pra nada. A tecnologia se desenvolve então, não para nos dar mais tempo e energia para nos ocuparmos com coisas que realmente importam, mas apenas para que nossa inteligência atrofie. Para que nos afastemos cada vez mais do santo, do filosófo, de Shakespeare, e nos aproximemos cada vez mais dos chimpanzés. (Assistam o filme Waking Life. Leiam o livro Universo em Desencanto. Huahuahuahuahuahua... zuei grandão!)

Mas, voltando à vaca fria, esse filme, Dans La Maison, para o qual eu não vou escrever uma crítica, me fez querer escrever de novo. E a dificuldade está colocada no fato de meu computador, no momento, por razões que julgo ser mais prudente omitir, não estar disponível. (Ao bem da verdade, essa era a menor das minhas dificuldades. Esses dias tentei escrever um texto e não saiu nem um teste. E ainda apaguei sem querer a bagaça. Freud explica. Mas fica aí uma metáfora. Hein?)

E eu então lembrei de outro filme francês. Infelizmente, não me lembro a grafia correta em francês, mas me refiro à película entitulada em português O Escafandro e A Borboleta. Eu com preguiça, com birra, de usar essa merda de teclado pra escrever meu textinho -- o que agora estou fazendo com um dedo por que fica mais fácil segurar o celular -- enquanto o personagem do filme escrevia piscando um único olho. Eu uso um dedo e ele usava um olho. 

E, que coisa!, a mesma atriz estava nos dois filmes. Agora que me toquei. Mas nem adianta perguntar por que eu não lembro o nome dela. É uma loira que deve ter chegado (e muito bem, diga-se de passagem) aos 40 e tem um ar sensual (o verdadeiro sexy sem ser vulgar) que só uma francesa pode ter (pelo menos na minha imaginação). Acho que prefiro ela até do que a Julie Delpy (Antes do Pôr-do-Sol?).

Enfim, talvez essa dificuldade, de ter que usar o celular pra escrever, e comparar isso ao que o homem preso dentro de si tinha que enfrentar, tenha me motivado mais ainda para escrever agora.

Esse é o paradoxo da natureza humana: quanto mais difícil, maior a probabilidade de você ir lá e fazer. 

Não, eu reconheço que isso não é lá tão comum assim. E não é pra menos. Lembra do que eu disse agora há pouco sobre a tecnologia?


p.s.: Esse texto não ia acabar aqui. Mas eu não resisti em deixá-lo assim quando a pergunta surgiu. Adoro terminar com pergunta.

Dedico esse texto ao cinéfilo Rony que me recomendou esse filme (e tantos outros).
Dedico também à Duda por que eu amo ela, a tigela e o coração. E ela assistiu o filme comigo. 

E quando ela ri me faz acreditar na felicidade.

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