7.7.09

Perdendo Dentes

Entrei no banheiro e me coloquei em frente ao espelho do armarinho. Era definitivamente eu. Fui abrindo a boca devagar, passando a língua pelos dentes de cima, da parte da frente. De repente, percebi que um deles estava meio mole. Era quase imperceptível, mas estava mesmo meio solto. Eu comecei a empurrá-lo, pra frente e pra trás, com a língua. E sentia que ele se movia, bem pouquinho, mas se movia, em relação aos outros dentes. Decidi continuar aquele procedimento, agora usando os dedos. O dente pareceu ceder mais um pouco.
Comecei a pensar no tempo transcorrido desde minha última visita ao dentista. Fazia mais de 10 anos. Eu cuidava relativamente bem dos meus dentes: escovava-os duas ou três vezes por dia, passava o fio dental uma ou duas vezes por semana, raramente comia doces... Nunca sentia dor em nenhum deles. Vez ou outra inspecionava-os. Nunca encontrei nada, exceto por algum tártaro, bem de leve, devido ao fato de eles serem muito tortos. E por isso acreditava que estava tudo bem.
O presente me mostrava que eu estava enganado. Dentes saudáveis não se movem.
Tentei me lembrar se eu havia batido a boca em algum lugar, ou se alguma coisa havia me acertado, mas nada me ocorria. E enquanto eu pensava, continuava empurrando o dente para frente e para trás. Percebi que os dois outros dentes que cercavam aquele com o qual eu já brincava também pareciam estar moles. Sim. Estavam os três meio soltos. Não eram só eles! Os quatro dentes da frente da parte de baixo também estavam moles. Comecei a me desesperar. Mas ao mesmo tempo não conseguia parar de mexer com eles. De repente, o de cima, o primeiro a se mover, se soltou em minha mão!
Eu me via no espelho, com um grande espaço vazio na arcada superior. Olhei para a pia e soltei o dente. Assisti o bloquinho branco acertar a louça da pia, ecoando alto dentro do banheiro, e depois escorregar para dentro do ralo.
Eu ainda estava de boca aberta, literalmente, com o que acontecia, e senti que mais alguma coisa estava solta na minha boca. Agora era um dente de baixo. De repente, outro e mais outro. E eu os cuspia na pia, estupefato. Sentia minhas têmporas latejarem mais forte, mais rápido. Como poderia sair para trabalhar com aquela boca banguela? E os dentes continuavam se soltando. E eu os cuspia no pia, aos montes, o barulho dentro do banheiro apertado era ensurdecedor.

Ontem sonhei que estava perdendo dentes. Levantei esbaforido e corri para o banheiro. No espelho do armarinho aquele rosto era definitivamente eu, e eu estava acordado. Joguei um pouco de água no rosto para terminar de acordar e me encarei novamente. Alisava a barba que começava a querer apontar de novo, até que minhas mãos chegaram à minha boca. Toquei de leve os meus dentes com as pontas dos dedos.
Seria impressão minha ou eles estavam meio moles?

1 comment:

Thaís Petit said...

Achei esse interessante demais