5.3.20

O "Sistema"

O mundo é muito estranho. Parece que a gente é treinado para não saber se relacionar. A gente vive em sociedade, mas não vive em comunidade. Quanto mais gente eu conheço, mais tenho essa sensação (que começou nos idos de 2004, quando faltei à minha primeira reunião de condomínio). Vou ter que abrir o parênteses da frase de cima. Se você não leu o parênteses, por que, de repente achou que era irrelevante, volta lá e lê.
A primeira vez que eu morei num prédio que tinha reunião de condomínio eu participei de uma. Depois nunca mais. Ah, nem! Que trem chato. Fica todo mundo se esquivando de cuidar daquilo que pertence a todos e dois espertalhões tentando provar que eles são os melhores para fazer isso (e por isso merecem nosso voto). Muito louco isso. Tenho certeza que não é por acaso. E senti a mesmíssima coisa na minha primeira reunião em uma Câmara de Vereadores. Calma! Não virei vereador. Estou funcionário público. E aí, os vereadores resolveram que deveriam ouvir de nós o que andamos fazendo pelo nosso soldo. Até aí tudo bem. Mas chega lá... reunião de condomínio de novo. A maioria nem tá a fim de estar lá e os que tão a fim só pensando no ganho secundário.

"Vote em mim! Eu te represento! Nem sei o que isso significa! Mas vote em mim!"
Ass.: (insira aqui o nome de um vereador, prefeito, deputado, governador, senador ou presidente)

Num tem jeito. Acho que uma sociedade, uma civilização, um país é tão bom quanto seu povo. E seu povo é tão bom quanto for a educação (seja de casa ou da escola).

Aí vou abrir mais um parênteses. Educação de casa ou da escola. A maioria dos pais (leia pai, mãe, responsável) hoje não tem a menor ideia do que está fazendo. A menor! Aí o professor de educação básica diz que "não dá para a escola ensinar e educar ao mesmo tempo." Concordo. Do jeito que tá, com os salários que os professores da educação básica ganham, com a estrutura das escolas públicas (pelo menos a maioria delas), não dá mesmo. Não dá pra fazer nada. Se eu fosse um ditador (e esse é um sonho secreto meu: ser um ditador), eu ia fechar todos os hospitais, todas as delegacias, todas as universidades, venderia todas as empresas privadas (talvez eu ficasse com os bancos... hehehe) e investiria tudo que o Estado arrecada em educação básica (não mencionei que fecharia o Congresso Nacional por que é óbvio que esse seria o primeiro a ser fechado na minha ditadura). Paga salário de médico pra professor de educação básica pra você ver se ele não vai educar além de ensinar. Aí você pode dizer: "Mas muitas pessoas vão morrer sem hospitais, o caos reinará sem delegacias!" É verdade.  Mas paciência. pagando 10 mil pros professores de educação básica, em 10 anos, os jovens do país saberiam andar com as próprias pernas e teriam responsabilidade pelos atos (a maioria, né? sempre tem um ponto fora da curva...)

Boa parte do que eu escrevi até aqui não passou de uma digressão. Por que, na verdade, o que eu queria mesmo era falar sobre como vivemos em sociedade, mas não vivemos em comunidade. E como me dá, cada vez mais, a impressão de que existe um sistema muito bem engendrado para manter as coisas como estão. Aquela máxima do Napoleão de dividir e conquistar. É mais velho do que andar pra frente, mas vale até hoje. Vamos analisar alguns exemplos.

Relação empregador e empregado. Estão todos tão sobrecarregados por tributos que não é bom negócio nem pra um nem pra outro fazer negócio com o outro ou com o um. Aí essa relação tem tudo pra dar errado. Os dois estão sempre achando que estão sendo lesados, que mereciam lucrar mais pelo tanto que trabalham ou já trabalharam. O empregador fica de má vontade com o empregado e vice-versa. Mas, na real, os dois deveriam se unir e ficar com raiva do "sistema".

Mas não é só nessa relação que eu vejo isso. A sociedade de consumo, também conhecida como capitalismo, fica o tempo inteiro (por vezes implicitamente, por vezes de maneira bem escancarada) nos dizendo que feliz é quem tem mais. Bão é quem tem mordomia, carrão do ano, casão, tênis da Nike, iPhone... Mas é impossível todos terem tudo isso. Principalmente ganhando o que se ganha e pagando impostos como pagamos... E o mais louco é que na maioria das vezes ninguém precisa dessas coisas pra ser feliz. De verdade mesmo, tem até estudo sobre a felicidade que diz isso: ter coisas não faz ninguém feliz. Mas a gente segue acreditando nisso, estudando, trabalhando, abrindo mão de absolutamente tudo que tem valor verdadeiro por qualquer coisa que tenha valor financeiro.

1 comment:

Joana M.Eleutério said...

Volte a escrever suas crônicas de humor, menino.